Vencer ilusões, derrotar<br>a política de direita

João Oliveira (Membro da Comissão Política)

PSD e CDS vendem a ideia de que uma vi­tória nas pró­ximas elei­ções é pos­sível, ten­tando de­ses­pe­ra­da­mente re­duzir a der­rota que já sabem ter certa. E o PS não con­traria, ali­men­tando o medo da vi­tória da co­li­gação PSD/​CDS para que, a pre­texto de uma falsa uti­li­dade, lhe caiam os votos no bolso. Uns e ou­tros, no en­tanto, não são ca­pazes de apre­sentar aos por­tu­gueses outra coisa que não seja a con­ti­nu­ação da mesma po­lí­tica, da po­lí­tica de di­reita com que têm in­fer­ni­zado a vida aos tra­ba­lha­dores e des­truído o País.

PS, PSD e CDS só di­vergem na ritmo e in­ten­si­dade da mesma po­lí­tica

As pro­postas e me­didas que vão sendo anun­ci­adas por PSD e CDS, mas também pelo PS, con­firmam a ne­ces­si­dade de os tra­ba­lha­dores in­ten­si­fi­carem a luta contra a po­lí­tica de di­reita e cons­truírem, também pelo voto, as con­di­ções para a con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica al­ter­na­tiva. No es­sen­cial, as pro­postas de PS, PSD e CDS partem da mesma base: sa­tis­fa­zendo todos os in­te­resses e de­sejos do ca­pital o que sobra para os tra­ba­lha­dores e o povo? E dão a res­posta: a fac­tura!

Apre­sentam quan­ti­fi­ca­ções e pro­jec­ções eco­nó­micas cuja sus­ten­tação não ex­plicam mas que uti­lizam para dar uma ilusão de rigor nas contas feitas. Dão por ad­qui­rido tudo o que foi feito a pre­texto do pacto de agressão, aban­do­nando qual­quer pers­pec­tiva de re­cu­pe­ração de di­reitos e re­versão dos re­tro­cessos im­postos. Antes de pen­sarem nos pro­blemas do povo e do País fazem pri­meiro as contas ao que lhes mandam da UE: quanto é pre­ciso con­ti­nuar a en­tregar em juros da dí­vida, qual a di­mensão dos cortes or­ça­men­tais ne­ces­sá­rios para sa­tis­fazer as re­gras do Tra­tado Or­ça­mental e da União Eco­nó­mica e Mo­ne­tária, que ou­tras fa­tias da pro­dução na­ci­onal é pre­ciso sa­cri­ficar no altar das po­lí­ticas de co­muns.

E tudo isso é in­to­cável, nada disso se dis­cute. Porque os «com­pro­missos eu­ro­peus» são in­de­cli­ná­veis e jus­ti­ficam toda a des­truição, todos os sa­cri­fí­cios, todo o re­tro­cesso, toda a perda de so­be­rania. A Cons­ti­tuição da Re­pú­blica e os seus co­mandos de uma «Re­pú­blica so­be­rana» e de cons­trução de uma «so­ci­e­dade livre, justa e so­li­dária» de nada valem pe­rante a or­to­doxia dos tra­tados e de­ter­mi­na­ções su­pra­na­ci­o­nais aos quais sub­jugam o in­te­resse na­ci­onal. Daí que, como temos dito, PS, PSD e CDS apenas te­nham a apre­sentar aos por­tu­gueses di­fe­renças de ritmo e in­ten­si­dade na con­ti­nu­ação da po­lí­tica de di­reita.

«Nós cegos» e al­ter­na­tiva

As pro­postas e me­didas apre­sen­tadas pelos par­tidos da troika in­terna, man­tendo o País amar­rado às im­po­si­ções e con­di­ci­o­na­mentos ex­ternos e às op­ções da po­lí­tica de di­reita, não só não apontam so­lu­ções para os pro­blemas sen­tidos pelos tra­ba­lha­dores e o povo como traçam novas pers­pec­tivas de agra­va­mento da ex­plo­ração e de­gra­dação das con­di­ções de vida. E mesmo quando, no dis­curso, o PS pro­cura criar ilu­sões quanto à sua dis­po­ni­bi­li­dade para mudar de po­lí­ticas, a re­a­li­dade en­car­rega-se de cla­ri­ficar as op­ções e com­pro­missos a que con­tinua amar­rado.

O que acon­teceu re­cen­te­mente a pro­pó­sito das 35 horas é uma in­te­res­sante me­tá­fora dessas op­ções e com­pro­missos. Entre a dis­cussão de um pro­jecto de lei, no dia 15 de Abril, que pro­punha ime­di­a­ta­mente e sem con­di­ções a re­po­sição das 35 horas e a de­cla­ração de An­tónio Costa, numa en­tre­vista no pas­sado dia 9 de Maio, em que aponta tal re­po­sição para 2016 e apenas «se for pos­sível», a gestão PS na Câ­mara Mu­ni­cipal de Sintra deu, na vés­pera do 1.º de Maio, um «nó cego» aos di­reitos dos tra­ba­lha­dores e também à au­to­nomia do poder local.

A gestão PS da au­tar­quia de Sintra não só se su­jeitou à tu­tela do Go­verno para o re­co­nhe­ci­mento do Acordo Co­lec­tivo de En­ti­dade Em­pre­ga­dora Pú­blica (ACEEP), como ainda por cima es­ta­be­leceu o re­gime das adap­ta­bi­li­dades como moeda de troca para a re­po­sição das 35 horas. Ou seja, repôs o ho­rário se­manal das 35 horas in­tro­du­zindo como con­tra­par­tida me­didas que abrem a porta à des­re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho e à de­sar­ti­cu­lação entre a vida pes­soal, fa­mi­liar e pro­fis­si­onal dos tra­ba­lha­dores. Não é disto que os tra­ba­lha­dores e o povo ne­ces­sitam.

O que é ne­ces­sário é uma po­lí­tica que sirva os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores sem exigir a es­colha entre di­reitos a li­quidar. É ne­ces­sária uma po­lí­tica que co­loque como pri­o­ri­dade a re­so­lução dos pro­blemas eco­nó­micos e so­ciais que atingem o País e os tra­ba­lha­dores e que en­frente, com co­ragem, os con­di­ci­o­na­mentos e cons­tran­gi­mentos im­postos pela UE e o grande ca­pital. E a con­cre­ti­zação de tal po­lí­tica exige uma força que as­suma a pa­lavra dada, que res­peite os com­pro­missos as­su­midos com os tra­ba­lha­dores e o povo.

Exige o re­forço da luta e o re­forço do PCP e da CDU para as duras ba­ta­lhas que temos pela frente.

 



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